É de Voltaire, renomado filósofo e escritor francês, a opinião de que “toda perfeição é um defeito”. Os dois conceitos, ainda que antagônicos, têm ganhado bastante destaque no mundo da numismática: nos últimos 3 anos, o mercado de moedas com erro cresceu de forma exponencial e neste artigo vamos te mostrar como você pode conhecer, participar e também fazer bons negócios neste mercado.
Desde já, se você já pensou em ingressar na modalidade de moedas com erro, anômalas e com defeitos, não deixe de ler este conteúdo até o fim. A melhor forma de proteger seu patrimônio (e, claro, a sua coleção) é tomar conhecimento das particularidades do mercado.
Preparado? Boa leitura e bons insights!
O MERCADO DE MOEDAS COM ERRO: COMO SURGIU?
Para os colecionadores, as moedas sempre tiveram um propósito especial: recontar a história social e econômica de uma determinada cultura, criando a linha do tempo dessas peças através de uma coleção. Cada item adquirido funciona como uma espécie de peça de quebra-cabeças, completando um cenário repleto de particularidades, detalhes e surpresas.
PRIMEIRA FASE
A partir do lançamento das moedas que comemoram os Jogos Olímpicos sediados no Rio de Janeiro, em 2016, muitos novos colecionadores entraram para a numismática. A partir daí, começaram a garimpar moedas olímpicas, avançar para a coleção de moedas do Plano Real, e alguns até ousaram ir mais além fazendo a coleção das moedas mais antigas do Brasil.
Fato é que as moedas do Plano Real são fáceis de encontrar pois ainda estão em circulação. Assim boa parte das moedas são encontradas no garimpo, onde por exemplo abrimos o cofrinho de moedas para procurar por datas, ou juntamos os trocos do pedágio durante uma viagem para ao final do dia garimpar e verificar se há alguma peça que falte para sua coleção.
Em meio disso, começamos a perceber que moedas com erro estão disponíveis neste cenário. Concorda comigo que uma moeda com um defeito exuberante como o Boné, Reverso Invertido ou Batida Dupla bastante acentuada são peças de tirar o fôlego? Pois é, como deixar essas moedas passarem? Desta forma muitas moedas com erros incríveis começam a ser identificadas, e logo um novo mercado começa a surgir.
Nos últimos anos, percebemos a incessante busca pelo valor de comércio para moedas raras, o que tem atraído muitos ajuntadores ou entusiastas. O que originalmente era para ser um prazeroso desenvolvimento de um acervo consistente, repleto de peças historicamente valiosas, passou a ser um nicho focado em venda e lucro. E, como você já sabe, itens escassos e difíceis de encontrar tendem a custar mais caro, certo? Mas vamos entender melhor este cenário.
NA PRÁTICA
Esse tipo de pensamento estabeleceu alicerces para um mercado que, no lugar dos princípios originais da numismática que consideram fatos históricos, qualidade das peças, organização, apresentação e etc, passou a priorizar relações comerciais: compra, venda e lucro. Neste contexto, a internet revelou um poder perigoso: o de influenciar pessoas que, por baixo conhecimento, são seduzidas por informações sensacionalistas que supervalorizam moedas, principalmente quando falamos de peças com erro. Vale lembrar que sempre existiram moedas com erro e anomalia, mas o mercado para elas somente ganhou espaço somente nos últimos anos.
Na prática, a caça de peças defeituosas com o objetivo de revendê-las por altos preços se distancia da essência da numismática, que envolve o estudo e a busca por conhecimento. Mas, calma: não há nada errado em gostar de moedas com erro. O que queremos te mostrar neste artigo é que precisamos estar preparados para este (e qualquer outro) tipo de mercado, blindando-se de negociações com valores abusivos baseados em informações sem fundamento, combinado? Vamos a diante.
ALERTA
Tome cuidado com os conteúdos da internet. Muitas pessoas sem conhecimento anunciam peças com valores exuberantes, ou descrevem sobre moedas sem qualquer tipo de fundamento, fazendo com que isso se torne uma referência que não condiz com a realidade da peça. Neste cenário consideramos vídeos, anúncios em sites abertos para venda, grupos de whatsapp e facebook. Fique muito antento(a)!
Primeiramente quando tiver interesse em adquirir uma nova peça, lembre-se: quem faz vídeos como forma de trabalho, ganha dinheiro com os vídeos. Por outro lado, negociar com comerciantes que estão há muitos anos no ramo é diferente. Pode apostar que você irá encontrar uma grande facilidade em negociar suas peças, e encontrar outras que estão te faltando ao tratar com pessoas mais experientes. Existe uma grande (e importante) diferença nisso, tá?
VARIANTE X DEFEITO: QUAL A DIFERENÇA?
Antes de mais nada, é preciso esclarecer que existe uma diferença entre moedas variantes e moedas anômalas (com defeito). Ao conhecer a essência dos termos, você evita enganos que podem comprometer o seu acervo.
Por variante, entende-se uma peça que tenha passado por alterações no cunho original, geralmente agregando melhorias na qualidade da moeda. É possível encontrar diferenças de tamanho, de peso ou no metal utilizado, por exemplo.
É importante ressaltar que as peças variantes são oficiais e documentadas. Ou seja: a moeda consta em documentações, catálogos e é reconhecida por colecionadores.
O panorama das moedas com erro é totalmente distinto: as anomalias são geradas por erros no processo de cunhagem, resultando em uma alteração não intencional. Não há registros que comprovem o volume da tiragem e a incidência do erro nas peças.
No Brasil, uma peça que se tornou famosa é a moeda de 50 centavos com o cunho da moeda de 5 centavos. Isso aconteceu no processo de fabricação onde o cunho da moeda de 5 centavos foi alocado no lugar do cunho da moeda de 50 centavos. Esse equívoco foi reconhecido pelo Banco Central e ficou famoso em todo o país.
Dessa forma, a diferença entre variante e defeito fica evidente: enquanto a variante descreve uma melhoria documentada, possibilitando avaliações mais assertivas, a anomalia ou erro em moedas consiste no resultado de um comportamento inesperado durante o processo de fabricação da moeda como posicionamento errado do disco (reverso horizontal e invertido, bonés e etc), cunho desgastado e batidades duplas por exemplo. Grave muito bem essas definições.
IMPORTANTE
Para entender melhor este cenário, sugerimos o livro Manual de Erros em Moedas vol. 2, pelo autor Edil Gomes, que explica com propriedade sobre as peças e erros já identificados por colecionadores. Dessa forma você conseguirá analisar melhor as peças que encontrar no garimpo e no mercado.
Se você ainda não conhece ou não adquiriu o livro, clique aqui:
MAS COMO CALCULAR O PREÇO DE UMA MOEDA COM ERRO?
No caso das moedas com erro, é praticamente impossível estimar com propriedade o valor real da peça, já que não existe registro de quantidade exata de cada peça com erro disponível no mercado. Este é o princípio básico de como estimar o preço de uma peça.
Em síntese para você entender melhor, vamos fazer uma análise com números reais. Partimos do princípio de que a média da tiragem estimada de moedas nos últimos 17 anos, foi de 200 milhões de peça por ano. Esse número varia de ano para ano, e podemos tomar como exemplo as tiragens de 664 milhões no ano de 2008 (maior tiragem) para 11 milhões no ano de 2014 (menor tiragem), dados fornecidos pelo Banco Central do Brasil. Você concorda que é muito mais difícil encontrar uma moeda com determinado erro numa tiragem de 11 milhões do que 664 milhões, não é mesmo?
Da mesma forma, outro fator muito importante para se levar em consideração é a quantidade de uma determinada peça disponível no mercado. Não basta somente a tiragem daquela moeda ser baixa, precisamos saber também qual é a disponibilidade dessa peça no mercado pois, caso existam muitas disponíveis, entende-se que não se trata de uma peça tão difícil no final das contas.
Ao entender como é o mercado para essa moeda, precisamos agora olhar para a qualidade da peça. Este princípio é indispensável para qualquer modalidade de coleção de moedas, ainda mais quando se trata de um investimento. Analise o estado de conservação da peça e veja se está de acordo com a média de sua coleção.
IMPORTANTE
Outra dica importante é reforçar o estudo, pesquisa e conhecimento antes de adicionar qualquer peça à sua coleção. Neste ano de 2020, tivemos a grande notícia do Lançamento do Catálogo para Moedas do Real: Erros e Variantes, que se torna o primeiro livro com referência de valores para negociação de moedas do Plano Real com Erro.
Se você ainda não possui essa ferramenta indispensável em sua coleção, clique aqui para adquirir seu exemplar:
CONCLUSÃO
Em conclusão, à primeira vista as moedas com defeito são muito interessantes e colecionáveis, mas convém ter cautela e conhecimento para ingressar nessa modalidade de coleção. Antes de comprá-las, renda-se à essência da numismática e valorize estudos, análises e contextos.
Assim também, hoje você conta com 2 ferramentas importantíssimas que certamente irão contribuir com o seu acervo:
Manual de Erro em Moedas 2 irá te ajudar a entender o processo que leva ao erro nas moedas, bem como saber analisar as peças que encontrar no mercado ou no garimpo, e garantir serem de procedência correta, ou seja, que é um erro autentico.
Catálogo de Moedas do Plano Real: Erros e Variantes traz para o colecionador referência de valores para as peças disponíveis e já conhecidas no mercado, facilitando as negociações entre colecionadores.
Além desses livros, é muito importante que você converse com grupo de pessoas e crie uma comunidade que possa te auxiliar com dúvidas e esclarecimentos sempre que precisar. Da mesma forma, contribua com essas pessoas compartilhando seu conhecimento e experiência como colecionador(a).